Não devemos admitir mais causas para as coisas naturais do que as que são verdadeiras e suficientes para explicar suas
aparências.
Sobre isto dizem os filósofos que a Natureza não faz nada em vão, e mais algo é vão quando menos serve. Pois a Natureza é simples e não se compraz com causas supérfluas.
Portanto, aos mesmos efeitos naturais temos de atribuir as mesmas causas, tanto quanto possível.
Como acontece com a respiração no homem e num animal, a queda de pedras na Europa e na América, a luz de nosso fogo culinário e do sol, a reflexão da luz na terra e nos planetas.
As qualidades dos corpos que não admitem intensificação nem, diminuição de graus, e que pertencem a todos os corpos
dentro do alcance de nossas experi- ências, devem, ser consideradas como qualidades universais de todos os corpos de
qualquer tipo.
Pois como as qualidades dos corpos só são conhecidas por nós por meio das experiências, devemos considerar como universais todas aquelas que concordam universalmente com as experiências, e as que não são capa- zes de diminuição não podem nunca ser completamente removidas. Certa- mente não devemos abandonar a evidência das experiências devido a sonhos e a ficções vãs de nossa própria criação, nem devemos nos afastar da analo- gia da Natureza, que tem o costume de ser simples e sempre consoante a si própria. Só conhecemos a extensão dos corpos por meio de nossos sentidos, mas estes não percebem a extensão em todos os corpos, mas como percebe- mos a extensão em todos os corpos que são perceptíveis, então também a atribuímos universalmente a todos os outros. Aprendemos pela experiência que muitos corpos são duros, e como a dureza do todo surge da dureza das partes, inferimos justamente a dureza das partículas indivisas não apenas dos corpos que sentimos, mas de todos os outros. Que todos os corpos são im- penetráveis aprendemos não pela razão, mas pela sensação. Percebemos que são impenetráveis os corpos que manuseamos e daí concluímos ser a impe- netrabilidade uma propriedade universal de todos os corpos de qualquer tipo. Que todos os corpos são móveis e dotados de certos poderes (que cha- mamos de inércia) de perseverar em seus movimentos ou em seus repousos, só inferimos a partir de propriedades semelhantes observadas nos corpos que já vimos. A extensão, dureza, impenetrabilidade, mobilidade e inércia do todo resulta da extensão, clureza, impenetrabilidade, mobilidade e inér- cia das partes. Portanto, concluímos que também as partículas menores de todos os corpos são todas estendidas, duras, impenetráveis, móveis e dota- das com sua própria inércia. E isto é a base de toda filosofia. Além disto, constatar que as partículas divididas, mas vizinhas dos corpos, podem ser separadas uma da outra, é questão de observação. E em partículas que per- manecem não divididas, nossas mentes são capazes de distinguir partes me- nores ainda, como é demonstrado matematicamente. Mas ainda não pode- mos determinar com certeza se as partes assim distinguidas e ainda não divi- didas podem ser de fato divididas e separadas umas das outras pelas forças da Natureza. Contudo, se tivéssemos a prova de uma única experiência de que qualquer partícula não dividida, obtida ao quebrar um corpo sólido e duro, sofreu uma divisão, poderíamos em virtude desta regra concluir que as partículas não divididas, assim como as divididas podem ser divididas, e separadas de fato ao infinito. Por último, se aparece universalmente por experiências e observa- ções astronômicas que todos os corpos ao redor da terra gravitam em dire- ção à terra, sendo isto em proporção à quantidade de matéria que cada um deles contém; que a lua gravita da mesma forma em direção à terra de acor- do com a quantidade de sua matéria; que, por outro lado, nosso mar gravita em direção à lua, todos os planetas em direção um ao outro e os cometas de maneira semelhante em direção ao sol, temos de assumir universalmente como uma conseqüência desta regra que todos os corpos de qualquer tipo são dotados com um princípio de gravitação mútua. Pois o argumento a partir dos fenômenos demonstra com mais força a gravitação universal do que a impenetrabilidade de todos os corpos, da qual não temos experiênci- as entre os corpos nas regiões celestes, nem qualquer tipo de observação. Não que eu afirme que a gravidade seja essencial aos corpos. Por sua vis insita não quero dizer nada além de sua inércia. Esta é imutável. Sua gravi- dade diminui na medida em que eles afastam-se da terra.
Na filosofia experimental devemos considerar as proposições inferidas pela indução geral a partir dos fenômenos como
precisamente ou muito aproxima- damente verdadeiras, apesar de quaisquer hipóteses contrárias que possam ser imaginadas,
até o momento em que outros fenômenos ocorram pelos quais elas possam ou ser tornadas mais precisas, ou fiquem sujeitas a
exceções.
Temos de seguir esta regra para que o argumento da indução não seja iludido por hipóteses.